segunda-feira, novembro 02, 2009

O QUE É O ABSOLUTISMO?


ABSOLUTISMO

Definição:
a) Poder absoluto, ilimitado, do soberano.
b) Sistema de governo, onde o poder está acima de qualquer direção ou fiscalização.
c) Teoria do absolutismo.
d) Termo usado para designar a metafísica, do absoluto, em Bradley. (Vide Sinopse da História da Filosofia).
e) Diz-se, familiarmente, do emprego de um espírito de intransigência nas opiniões.
f) «Absolutismo estético», expressão usada para evidenciar a beleza objetiva e absoluta, não relativa ao observador, tornando-se, daí, padrão absoluto para a crítica. Foi esta acepção primeiramente exposta por Platão. Mantiveram-na, na Filosofia, os intuicionistas, embora combatida pelos que julgam a beleza meramente uma espécie de prazer, e, consequentemente, dependente do indivíduo. Kant assume uma posição intermediária, ao afirmar: a beleza é subjectiva, mas o julgamento «isto é belo» é sempre realizado como se existisse um padrão objetivo. [MFSDIC]


(in. Absolutism; fr. Absolutisme, al. Absolutismus; it. Assolutismó). Termo cunhado na primeira metade do séc. XVIII para indicar toda doutrina que defenda o "poder absoluto" ou a "soberania absoluta" do Estado. No seu sentido político original, esse termo agora designa:
1) o absolutismo utopista de Platão em República;
2) o absolutismo papal afirmado por Gregório VII e por Bonifácio VIII, que reivindica para o Papa, como representante de Deus sobre a Terra, a plenitudo potestatis, isto é, a soberania absoluta sobre todos os homens, inclusive os príncipes, os reis e o imperador;
3) o absolutismo monárquico do séc. XVI, cujo defensor é Hobbes;
4) o absolutismo democrático, teorizado por Rousseau no Contrato social, por Marx e pelos escritores marxistas como "ditadura do proletariado". Todas essas formas do absolutismo defendem igualmente, embora com motivos ou fundamentos vários, a exigência de que o poder estatal seja exercido sem limitações ou restrições. A exigência oposta, própria do liberalismo (v.), é a que prescreve limites e restrições para o poder estatal.


No uso filosófico corrente, esse termo não se restringe mais a indicar determinada doutrina política, mas estende-se à designação de toda e qualquer pretensão doutrinai ou prática ao absoluto, em qualquer campo que seja considerado. Diz, p. ex., Reichenbach (The Theory of Probability, p. 378): "Devemos renunciar a todos os resíduos do absolutismo para compreender o significado da interpretação, em termos de frequência, de uma asserção de probabilidade em torno de um caso individual. Não há lugar para o absolutismo na teoria das asserções de probabilidade referentes à realidade física. Tais asserções são usadas como regras de conduta, como regras que determinam a conduta mais eficaz em dado estágio do conhecimento. Quem quiser encontrar algo a mais nessas asserções descobrirá no fim que perseguiu uma quimera". O absolutismo filosófico não é tanto de quem fala do Absoluto ou de quem lhe reconhece a existência, mas de quem afirma que o próprio absoluto apoia suas palavras e lhes dá a garantia incondicional de veracidade. Nesse sentido, o protótipo do absolutismo doutrinal é o Idealismo romântico, segundo o qual, na filosofia, não é o filósofo como homem que se manifesta e fala, mas o próprio Absoluto que chega à sua consciência e se manifesta.

 (Abbagnano)

Sob o ponto de vista da fundamentação filosófica, é da estruturação do "eu" que depende o conhecimento. A relação sujeito/objecto, enquanto processo de revelação do concreto, propõe inúmeras variantes que permitem não só especulação estritamente filosófica mas, também, reinterpretação da História e do fenómeno social.
Uma compreensão do mundo circundante, exige uma reflexão sobre a natureza do "eu", enquanto sujeito projectado no real, de espírito conhecedor, perceptivo e racionalizante. Deste esforço necessariamente introspectivo, depende a sustentabilidade do conhecimento e o desencadear de um processo de descoberta, sem a acção sempre corrosiva da insegurança.
Desde o "cogito ergo sun" de Descartes ? penso logo existo ? até ao "cogitum cogitatum" ? a consciência de si, auto-reflexiva ? o mundo surge matizado, o que levanta uma questão premente e muito actual: em que medida a realidade que percepciono é a mesma do Outro que igualmente conhece? Existe uma verdade, ou várias verdades? Entramos, assim, nas questões do absoluto e do relativo, do objectivo e do subjectivo, do sujeito e do objecto. Relações sobre as quais os filósofos reflectem e os historiadores se sustentam para abordar um fenómeno histórico.
Para os pragmáticos e tecnicistas, estes problemas são de somenos importância, argumentando com o progresso tecnológico, o utilitarismo da investigação científica e, no âmbito das ciências humanas e sociais, defendendo o fim da História protagonizado pelos triunfos do liberalismo e do capitalismo, enquanto verdades, sublinhe-se, absolutas.
Os liberais de hoje, partem da estruturação de um "eu" assente nestas certezas absolutas, a saber: o individualismo como filosofia, o mercado como solução para os problemas económico-sociais, o demo-liberalismo como regime político. Deste ideário liberal saem as soluções para os grandes problemas da humanidade, cuja doutrina não contestam, tão somente variando em termos de metodologias. Por exemplo, a prosperidade em África só será efectiva quando aí se aplicarem as regras do capitalismo. A premissa parte de uma ideia absoluta: a virtualidade do neoliberalismo na recuperação económica africana. Uma questão de anos e boas políticas chegariam para atingir um equilíbrio sócio-económico aceitável nesse continente. (Acrescentaria eu, uma questão de séculos, não contando com as anomalias intrínsecas ao capitalismo e que todos reconhecem).
Outro exemplo é o da presença ocidental no Iraque. Os seus defensores sustentam-se no conceito demo-liberal, como dado absoluto de fórmula de regime político.
Vivemos, pois, uma época em que a análise do factor histórico parte de conceitos (preconceitos) absolutos, excluindo reinterpretações revolucionárias que atinjam na estrutura, a certeza metafísica do processo de conhecimento liberal. Como o absoluto remete para a marginalidade tudo o que o negue (em último caso, o absoluto não conhece negação), o neoliberalismo assume-se, (aparentemente de forma paradoxal), como um absolutismo. Admitindo "nuances", mas só na medida em que justifiquem a sua suposta benignidade. O risco é o início do terceiro milénio sugerir, mais configuradamente e não só em mero esboço, o aparecimento do neofascismo.

(PAGINA DA EDUCAÇÃO)

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