sexta-feira, novembro 27, 2009

FENOMENOLOGIA PARTE I



FENOMENOLOGIA COMO MÉTODO E COMO FILOSOFIA
A Noção de Filosofia Primeira
O problema diante do qual se colocou Husserl, desde as suas primeiras obras, foi o seguinte: o que resta quando eu realizo a dúvida universal no sentido Cartesiano?
Para Descartes nós sabemos qual é a resposta: é o EGO COGITO, o EU pensante.
Para Husserl o que permanece no íntimo deste COGITO são as ATIVIDADES do EU pensante. Essa vida do EU pensante se traduz em ATOS constituindo as coisas e os outros.
Essa compreensão do Cogito contrariava a ciência da época que afirmava que todo pensamento era resultado da ação de condições psicológicas ou de ações externas que agiam sobre mim. O pensamento era compreendido como fenômeno residual.
Para o psicologismo em voga na época de Husserl, os princípios lógicos, e em conseqüência a matemática, encontravam seus fundamentos nas leis psicológicas. Daí se justificar que as primeiras preocupações de Husserl serão relativas aos fundamentos da matemática e da lógica, buscando encontrar certezas fundadas sobre a evidência.
Em seguida, conforme nos indica Strasser (Strasser, Stephan: Phénoménologie et sciences de l’homme, Louvain, Nauwlaerts, 1967), ele edifica a fenomenologia mostrando como ela é um método e como ela deve ser uma filosofia primeira ou metafísica, é a fase das reduções e o acesso às evidências puras.
Na terceira fase, ele se esforça por mostrar como se vai da fenomenologia ao idealismo transcendental. Os seus estudos marcantes desta época são as Meditações Cartesianas, onde na 5a meditação já é colocado o problema do OUTRO, que será retomado por Max Scheler e Sartre posteriormente.
No pensamento dos últimos anos de sua vida, expresso nas "Krisis", Husserl constata que tanto a filosofia quanto a ciência estão em constante modificação, dado o caráter situacional do homem. Daí advém suas preocupações com a filosofia da história, das relações com o corpo, etc.
Husserl tentará, portanto, de um lado mostrar que a reflexão é reveladora das influências do meio, que todo pensamento está mergulhado na experiência vivencial, no fluxo temporal; será assim, um pensamento vivencial, no fluxo temporal, será assim, um pensamento e uma consciência históricos. Por outro lado, Husserl quer mostrar o valor e a importância de colocar entre parênteses esse vivencial, esse conjunto de afirmações que estão implicados na nossa experiência existencial, para ver melhor, não as realidades experimentadas mas sim o caráter de serem experimentadas. Em outras palavras, Husserl quer liberar o nosso olhar para a análise do vivido, que não pode ser definido, mas apenas descrito.
Husserl não colocará em dúvida, como Descartes, a realidade do mundo exterior. Ele realizará a "Epoché" fenomenológica que consiste em proibir todo juízo que verse sobre a existência espaço-temporal (Husserl, Edmund: Idées directrices pour une phénoménologie, Paris, Gallimard, 1950, pp. 102-103).
A redução colocará entre parênteses a realidade do mundo, bem como os conhecimentos científicos que deles possamos ter; colocará entre parênteses, ainda, o homem enquanto ser natural, o seu empírico, a lógica, e a matemática. Desta forma a redução nos prepara para a descrição dos atos mediantes os quais eu percebo, imagino e julgo os objetos. Pela redução nós vamos da experiência do mundo às descrições das atividades do sujeito transcendental.
A análise fenomenológica será, portanto, a análise dessas direções do nosso olhar feita pela consciência. Esta consciência é dita intencional porque se dirige, visa um objeto.
A intencionalidade é a direção da consciência para alguma coisa. Tudo isto para o que a consciência se dirige é objeto. Nós podemos, assim, erguer uma teoria da objetividade do real nos quadros do pensamento fenomenológico.
A direção para algo pode nos levar a pensar que o algo, o objeto, permanece numericamente idêntico, mas pode ter aparições múltiplas à consciência.
Neste olhar o que nós retemos é aquilo que nos aparece (o fenômeno); este olhar nos fornece uma impressão vivida, que pode ser descrita, que não pode se separar do meu corpo e da minha consciência que a experimenta.
Nós dissemos acima que Husserl define a fenomenologia como uma visão que se volta para o seu ato de ver, de experimentar. O ver ou "intuição doadora de sentido" é um ver que constitui seus objetos, isto é, ele insiste sobre este caráter da intervenção da consciência em toda atividade consciente, este caráter segundo o qual há uma estreita correlação entre nossas operações mentais e seus objetos, entre a noesis e seus noemas. A fenomenologia se distingue do realismo, do ponto de vista epistemológico, no que concerne ao conhecimento conceituai e não no que diz respeito ao conhecimento sensível. Ela recusa, no conhecimento categorial, a possibilidade de discernir, nos objetos ideiais, nos conceitos, o lógico e o real; o conceito não é objeto puramente lógico, nem puramente real, nem síntese dos dois. Para Husserl não se pode pensar um objeto sem nos referirmos ao ato de consciência que o atinge, que o apreende. A consciência não assimila o objeto, não o constrói. A consciência, pelo fato de se dirigir para o objeto (in-tensão), supõe que ela se distancia dos objetos. Toma recuo em relação a seus objetos, não se une a eles, mas apenas os visa. Por isto ele dirá que o conhecimento é uma série sem fim de relações intencionais, de um voltar-se constante para as visões que ela terá dos objetos. Estas visões não são todas da mesma forma. Husserl assinala três maneiras de realizarmos a redução, isto é, uma modificação de perspectiva.
a) redução eidética - nela eu distingo fatos e essências. A essência é a significação do fato e só se revela em situação, isto é, não se revela independentemente do fato.
b) redução transcendental - nela o mundo é visto como correlato da consciência. Não há o em-si; ela se situa no nível da intencional idade noética (operação consciente) noemático (objeto significativo).
c) redução constituinte ou produtiva - nela o ego se reconhece como fonte dos fenômenos, como responsável do seu sentido, como LIBERDADE.

Por Creusa Capalbo

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